Publicado originalmente pelo site Brasil 247, nesse link
Faltava um elo. Não falta mais. Temer pediu à Odebrecht dinheiro para a caixinha de Eduardo Cunha eleger sua bancada de 140 parlamentares, para desatar o golpe. Nada que preocupe a Lava Jato ou o STF. O golpe já foi dado, o governo do golpe desmonta o Brasil, impõe a maior depressão econômica que o país já conheceu, joga no desemprego vários milhões de pessoas, empobrece os brasileiros e o Brasil, entrega a empresas estrangeiras patrimônios nacionais. Enorme custo-benefício para quem o financiou e para quem se beneficia dele.
Pela primeira vez, todo o grande empresariado, numa eleição presidencial, se somou em bloco à oposição ao candidato do governo, em 2014. Todos estavam contra Dilma Rousseff, desde que ela começou a diminuir as taxas de juros, no começo do seu primeiro mandato.
Impossibilitados de ganhar, depois de jogar todo apoio a Aécio Neves, a Marina Silva e a Aécio de volta, o grande empresariado concentrou os recursos nas eleições parlamentares. Como fica claro na doação da Odebrecht, foi dirigido para eleger os 140 parlamentares da bancada de Cunha. Que foram a alavanca indispensável para aprovar o golpe e para todos os retrocessos, todos a favor da concentração de riqueza nas mãos dos mais ricos e contra a massa da população.
Não podia ser mais clara e direta a confissão: na sede da vice-presidência, MT recebeu a Odebrecht, junto com comparsas seus, pediu os recursos para os empresários para apoiar a bancada que o elevaria à presidência. Compra de votos, compra de mandatos, dinheiro por fora para eleger a bancada de Eduardo Cunha e de MT.
Há tempos que o dinheiro pesa decisivamente na política. Mas deixou de poder decidir a eleição do presidente da República quando seus candidatos do coração – Collor e FHC – fracassaram e deixaram o campo livre para a vitória de candidatos que defendem um modelo que atende os interesses da grande maioria da população: desenvolvimento econômico com distribuição de renda.
Aí se montou a grande operação de culpar justo esses governos pela corrupção na política, quando a grana continuou a se concentrar do outro lado, dos que apoiaram José Serra duas vezes, Geraldo Alckmin, Aécio. Em 2014, se deu o maior escândalo de financiamento eleitoral, de que a denúncia que envolve diretamente MT é o caso mais flagrante.
Houvesse ainda justiça no país, tivéssemos um STF digno, independente, não acovardado, seria seu tema central, da maior urgência, porque falseou a história recente do país, afetando diretamente a legitimidade do voto popular. Há evidências e provas mais que suficientes para invalidar o impeachment e cassar os 140 parlamentares que foram comprados para promovê-lo, além dos que participaram diretamente da propina, a começar por MT.
Isso sim passaria a história recente do Brasil a limpo. Ficaria evidenciado como o dinheiro intervém nos processos eleitorais e políticos, como os mandatos de grande parte dos parlamentares são conquistados pela sua venda a grandes empresas particulares.
Se nada disso ocorrer, é porque o Judiciário, o Congresso, o governo, estão eles mesmos corrompidos pelo poder do dinheiro, que rompeu com a democracia no Brasil e faz deles coveiros da soberania do voto popular.
Matéria publicada em Verbas Públicas, no Jornal Contexto impresso e online – 24/02/2017
Entrevista publicada no jornal Contexto impresso – 24/02/2017
A proposta de Emenda à Constituição (PEC 287) da Reforma da Previdência, enviada pelo governo Michel Temer, é um dos temas mais polêmicos em pauta no Congresso Nacional neste ano de 2017. Ainda sob análise em Comissão Especial, a matéria deve chegar ao plenário da Câmara dos Deputados já no final de março.
Para o deputado federal Rubens Otoni a Reforma da Previdência é um ataque aos direitos da população brasileira. “A proposta do governo para a Previdência é um verdadeiro pacote de maldades contra a população mais pobre e que necessita de proteção social. É a destruição total do Sistema de Seguridade Social elaborado pela Constituição Cidadã de 1988”, disse Otoni.
Rubens Otoni é suplente na Comissão da Reforma da Previdência. Veja sua entrevista:
O senhor é contra a Reforma da Previdência?
Rubens Otoni: Sou contra esta proposta de Reforma porque ela ao invés de garantir os direitos sociais previstos na Constituição, vem para cortar benefícios essenciais para a população mais carente.
Mas o governo diz que tem um déficit muito grande que inviabiliza a Previdência.
Rubens Otoni: Não é verdade. Basta perguntar para os Fiscais Federais que são os arrecadadores e eles podem esclarecer essa mentira do governo. Quando o governo fala em déficit ele só leva em conta a arrecadação direta urbana e rural. Ora, e o dinheiro do Confins, do PIS-PASEP? Ele também não é para a Seguridade Social? Mais grave que isso: e os valores desviados da Seguridade Social pelo governo através de renúncias, desonerações e desvinculações de receita? Na realidade o dito déficit da Previdência é nada mais que um mito criado para esconder a ineficiência do estado na gestão e também na cobrança de dívidas ativas. Esta conta não pode agora ser jogada nos ombros dos aposentados e pensionistas.
O senhor concorda com a proposta do governo de igualar homens e mulheres para efeito dos direitos de aposentadoria?
Rubens Otoni: Não é correto, por que na prática não existe hoje igualdade nas condições de trabalho, nem na remuneração. Por que teria que ser na hora de definir a idade da aposentadoria?
A proposta do governo acaba com a aposentadoria especial dos trabalhadores rurais. O senhor concorda?.
Rubens Otoni: Claro que não. É um absurdo. Temos uma grande dívida social com o trabalhador rural, e seria uma injustiça imensa tratá-lo de maneira igual ao urbano na hora da sua aposentadoria. Este ajuste precisa ser feito de maneira gradativa.
Publicado originalmente pelo site Brasil 247, nesse link
Em poucos meses ficou claro que o governo surgido do golpe só tem agenda negativa: a destruição do patrimônio público – da Petrobras e do pré-sal em primeiro lugar, mas também dos bancos públicos -, dos recursos para políticas sociais, dos direitos dos trabalhadores e da soberania na política externa do Brasil. Faz isso com extremo afinco, como se tivesse recebido delegação popular para isso. No entanto, aplica um programa extremamente antipopular, derrotado sucessivamente nas urnas, contando com um apoio irrisório de pessoas, mas não se importando com isso.
Assumiu o objetivo histórico de interromper os governos do PT, que tinham caminhado na direção oposta: fortalecimento das empresas estatais, da Petrobras, mas também dos bancos públicos; o maior processo de democratização social da história do país, com a construção de um mercado interno de consumo popular, com a inclusão social de dezenas de milhões de pessoas; a promoção do poder aquisitivo dos trabalhadores de forma permanente; a projeção do país no mundo mediante uma política externa soberana.
Os governos desde 2003 demonstraram como é possível, mesmo na contramão do que acontece no mundo, diminuir a desigualdade social, terminar com a fome e a miséria. Como é possível o Brasil priorizar as políticas de integração regional ao invés dos Tratados de Livre Comércio com os EUA; como a integração com os Brics é o caminho alternativo a um mundo em recessão.
Contra tudo isso que se erige o governo do golpe. Antes de tudo, no plano interno, desarticular o modelo de crescimento econômico, favorecendo a consolidação da hegemonia do capital financeiro, em detrimento dos investimentos produtivos. Concomitantemente, elevar o desemprego, enfraquecendo a capacidade de negociação dos sindicatos, barateando ainda mais a força de trabalho e elevando a superexploração dos trabalhadores e os super lucros dos patrões.
No plano externo, enfraquecer os Brics, isolar o Brasil desse eixo fundamental de criação de um mundo multipolar e favorecer os interesses dos EUA de abaixar o perfil do país na América Latina e no mundo.
Quem perde com essas desarticulações? Em primeiro lugar o povo brasileiro, a grande maioria da população, beneficiária das políticas sociais e dos reajustes dos salários acima da inflação. Aumentam o desemprego, o abandono, as populações de rua, a precariedade do trabalho, aumenta a concentração de renda e a exclusão social.
Em segundo lugar, perde o projeto de um Brasil produtivo, que cresce e gera empregos e renda para todos. Perde a imagem do Brasil na América Latina e no mundo. Perde a possibilidade de voltar a demonstrar que é possível um projeto de desenvolvimento com distribuição de renda, que esta é funcional e alimenta a expansão econômica.
Em terceiro lugar, perdem o Brasil no mundo, a América Latina e o Sul do mundo, que tinham no nosso país uma referência fundamental. Perdem os que acreditam na construção de um mundo menos desigual, com menos concentração de renda e de poder.
Em quarto lugar, perde a democracia que se construía no Brasil, com grandes esforços, incluindo a toda a população, deixando nas mãos do povo a escolha sobre quem deveria governar o país.
Perde, finalmente, a esperança, a confiança no Brasil, o orgulho de ser brasileiro, a possibilidade de construção de um país solidário, baseado na igualdade e na justiça.
A reconstrução do Brasil interessa assim à grande maioria da sua população, a todos os que acreditam na democracia, os que confiam que a projeção de um Brasil líder na região e no Sul do mundo seja bom para nós e para a grande maioria dos países do mundo.
Matéria publicada em Anápolis, no Diário da Manha impresso – 22/02/2017
Publicado originalmente pela revista Carta Capital, nesse link
A onda de ódio que grassa no mundo, claramente no Brasil, as discriminações contra afrodescendentes, nordestinos, indígenas, mulheres, LGBT e membros do PT sem falar dos refugianos e imigrantes rejeitados na Europa e pelas medidas autoritárias do presidente Donald Trump contra imigrantes muçulmanos, estão rasgando o tecido social da convivência humana a nível nacional e internacional.
A convivência é um dado essencial de nossa natureza, enquanto humanos, pois nós não existimos, co-existimos, não vivemos, convivemos. Quando se dilaceram as relações de convivência algo de inumano e violento acontece na sociedade e em geral em nossa civilização em franca decadência.
A cultura do capital hoje globalizada não oferece incentivos para cultivarmos o “nós” da convivência, mas enfatiza o “eu” do individualismo em todos os campos. A expressão maior deste individualismo coletivo é a palavra de Trump:”em primeiro lugar (first) os USA” que bem interpretada é “só (only) os USA.”
Precisamos resgatar a convivência de todos com todos que moramos numa mesma Casa Comum, pois temos uma origem e um destino comuns. Divididos e discriminados percorreremos um caminho que poderá ser trágrico para nós e para a vida na Terra.
Notoriamente a palavra “convivência”como reconhecem pesquisadores estrangeiros (por exemplo um acadêmico alemão, T. Sundermeier, Konvivenz und Differenz,1995) tem seu nascedouro em duas fontes brasileiras: na pedagogia de Paulo Freire e nas Comunidades Eclesiais de Base.
Paulo Freire parte da convicção de que a divisão mestre/aluno não é originária. Originária é a comunidade aprendente, onde todos se relacionam com todos e todos aprendem uns dos outros, convivendo e trocando saberes. Nas CEBs é essencial o espírito comunitário a e convivência igualitária de todos os participantes. Mesmo o bispo e os padres sentam-se juntos na mesma roda e todos falam e decidem. Nem sempre o bispo tem a última palavra.
Que é a convivência? A própria palavra contém em si o seu significado: deriva de conviver que significa conduzir a vida junto com outros, participando dinamicamente da vida deles, de suas lutas, avanços e retrocessos. Nessa convivência se dá o aprendizado real como construção coletiva do saber, da visão do mundo, dos valores que orientam a vida e das utopias que mentém aberto o futuro.
A convivência não anula as diferenças. Ao contrário, é a capacidade de acolhê-lhas, deixá-las ser diferentes e mesmo assim viver com elas e não apesar delas. A convivência só surge a partir da relativização das diferenças em favor dos pontos em comum. Então surge a convergência necessária, base concreta para uma convivência pacífica, embora sempre haja níveis de tensão, por causa das legítimas diferenças.
Vejamos alguns passos rumo à convivência:
Em primeiro lugar, superar a estranheza pelo fato de alguém não ser de nosso mundo. Logo perguntamos: de onde vem? Que veio fazer? Não devemos criar constrangimentos, nem enquadrar o estranho mas acolhe-lo cordialmente.
Em segundo lugar, evitar fazer-se logo uma imagem do outro e dar lugar a algum preconceito (se é negro, muçulmano, pobre). É difícil mas é incondicional para a convivência. Enstein bem dizia: “é mais fácil desintegrar um átomo do que tirar um preconceito da cabeça de alguém”. Mas podemos tirar.
Em terceiro lugar, procurar construir uma ponte com o diferente que se faz pela pelo diálogo e pela compreensão de sua situação.
Em quarto lugar, é fundamental conhecer a língua ou rudimentos dela. Se não for possível, prestar atenção aos símbolos pois revelam, geralmente, mais que as palavras. Eles falam do profundo dele e do nosso.
Por último, esforçar-se para fazer do estranho um companheiro (com quem se comparte o pão) de quem se procura conhecer sua história e seus sonhos. Ajudá-lo a sentir-se inserido e não excluído. O ideal é faze-lo um alidado na caminhada do povo e daquela terra que o acolheu, pelo trabalho e convivência.
Acrescentamos ainda que não se deve restringir à convivência apenas à dimensão humana. Ela possui uma dimensão terrenal e cósmica. Trata-se de conviver com a natureza e seus ritmos e dar-se conta de que somos parte do universo e de suas energias que a cada momento nos atravessam.
A convivência poderá fazer da geosociedade menos centrada sobre si mesma e mais aberta para cima e para frente, menos materialista e mais humanizada, um espaço social no qual seja menos difícil a convivência e a alegria de conviver.
Leonardo Boff é articulista do JB on line e escreveu: Convivência, respeito e tolerância, . Vozes 2006.
Matéria publicada em Destaques, Jornal Estado de Goiás online,www.jornalestadodegoias.com.br/ – 20/02/2017
Matéria publicada em Notícias, site Prefeitura de Anápolis, www.anapolis.go.gov.br – 20/02/2017